Cartinha inusitada

Cartinha inusitada

Crianças da Associação de Apoio às Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais pedem material escolar ao Papai Noel

 

Texto escrito pela repórter Luana Carvalho

Publicado no jornal acrítica, capa do caderno cidades do dia 21 de dezembro de 2014

 

Uma cartinha com um pedido inusitado chamou a atenção do Papai Noel Hélio Pereira, que se veste de “Bom Velhinho” todos os anos para entregar presentes às crianças da Associação de Apoio às Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais (AAPPNE). “Todo ano eles pedem uma coisa diferente, mas neste ano me assustei. Eles estão pedindo material escolar. Lápis, borracha, caneta, apontador e mochilas”, contou Hélio.

Para ele, o pedido das crianças representa o futuro  que o Brasil almeja. “No ano passado eles pediram brinquedos. Agora, eles estão querendo estudar. Achei a cartinha linda porque significa que eles já pensam em melhorar o País e principalmente a vida”, comentou.

 

Ubiracildo Júnior Ribeiro Salomé, de 8 anos, é o autor da carta, em nome de todas as crianças, e pensa em ser escritor quando crescer. Ele é uma das vítimas de um dos maiores incêndios da cidade de Manaus, ocorrido no dia 27 de novembro de 2012, quando o fogo destruiu aproximadamente 400 casas de madeiras na comunidade Arthur Bernardes, no bairro São Jorge, Zona Oeste.

“Eu lembro que estava voltando da escola quando um homem correu e me disse para não descer porque estava pegando fogo. Eu e minha família perdemos tudo que tínhamos . Ainda tentamos salvar algumas coisas quando o fogo diminuiu, mas não deu. Perdemos a TV, o DVD e todas as nossas roupas e móveis”, lembrou o pequeno, bastante emocionado.

 

Hoje ele mora com a mãe e quatro irmãos em uma casa paga pelo benefício do aluguel social, no Santa Etelvina, Zona Norte. Para estudar, Ubiracildo precisa pegar dois ônibus todos os dias. “A gente pega o primeiro ônibus na avenida Torquato Tapajós. Depois a gente desce no Terminal 1, da Constantino Nery e pega outro ônibus até o São Jorge, onde continuo estudando,” relata.

A mãe é empregada doméstica e precisa se desdobrar para cuidar dos cinco filhos. Uma das irmãs de Ubiracildo é cadeirante e, por isso, ele também participa das atividades da AAPPNE. “Nunca vou conseguir apagar da memória as lembranças ruins daquela tragédia”, conta.

Ele tem apenas um desejo na vida: continuar estudando para se tornar um escritor. Outras 154 crianças e adultos de até 49 anos também participam das atividades da associação. A sede está localizada na Avenida Laguna, 1618, conjunto Vista Bela, bairro Planalto, Zona Oeste.